sexta-feira, 6 de julho de 2007

Antonio Batalha > Tancredo se despede

Trechos do depoimento de Antonio Batalha, gravado em 26/04/2007, a respeito de sua foto da despedida de Tancredo Neves, após comício em Ipanema, Rio de Janeiro, em 1985.
Transcrição >

(...) Uma foto que na verdade eu não sei se tem valor histórico... Mas é uma foto especial para mim, porque foi feita antes do Comício das Diretas e foi a foto que eu fiz do Tancredo Neves num comício pequeno, em Ipanema, onde eu, naquele momento me surpreendi...Ele estava, na verdade, terminando o comício e se despediu das pessoas levantando o braço, e os que estavam com ele fizeram o mesmo. E naquele momento ele se virou para a câmera e eu fiz essa foto. E essa foto acabou sendo a primeira página do JB no dia seguinte. Na hora em que eu fiz a foto eu senti que era uma foto especial para mim. Pelo momento, pela coisa da campanha das diretas, enfim... E fiquei satisfeito quando o jornal deu um bom aproveitamento a ela.


- Mas, qual é a sua leitura dessa foto? Como é que você enxerga o que está contido na foto?

Pois é, essa foto, curiosamente, acabou sendo mais... Na época o JB tinha, como tem, eu acho, até hoje, a Agência JB, que distribuiu essa foto, sobretudo, depois que o Tancredo morreu, como se ele estivesse num gesto de despedida... Então, eu quando fiz a foto, senti que era uma foto importante, uma foto significativa. E depois, com a morte dele, que veio a acontecer naquele ano ainda, essa foto marcou ainda mais para mim.
- Então você fez nessa foto a despedida, mas, por exemplo, também se pode fazer uma associação com aquela saudação nazista...

- Ah, sim, sem dúvida!... Nunca me passou pela cabeça fazer este tipo de associação!...

- E as pessoas não fizeram?

- Não. Que eu saiba, ninguém fez. E quando eu fiz essa foto, todos os veículos de imprensa estavam cobrindo esse comício do Tancredo e eu dei a sorte de estar localizado numa posição em que os outros companheiros, não estavam. Tanto que ninguém, nenhum jornal, nenhum veículo publicou essa foto, só o JB.

- (...) Você pensa que as suas escolhas podem afetar a história de alguma maneira?

(...) Eu penso que na hora em que eu estou fotografando, sobretudo quando estou documentando um fato cotidiano, uma notícia, eu estou fazendo a história daquele momento, eu estou fazendo a história daquela notícia, eu estou acompanhando, documentando essa história... E nesse sentido, eu acho que o repórter-fotográfico, ele tem esse papel de ser uma testemunha da história, de ser parceiro dela, na medida em que ele documenta isso para o futuro.(...)

Muitas vezes a gente via que a fotografia não era bem aproveitada, não era bem editada, por n motivos... Mas, no caso dessa foto, especificamente, eu acho que ela foi muito bem aproveitada. Porque não sofreu corte, foi editada exatamente como eu a fiz. E sempre que eu olho para ela eu revivo aquela sensação do momento em que ela foi feita. (...)
Eu sou um apaixonado por fotografia, pelo meu trabalho. Como, aliás, eu acho que todos os repórteres-fotográficos são e, se eu tivesse que voltar no tempo para fazer tudo novamente, eu faria tudo novamente.



Antonio Batalha > exerceu atividades profissionais como repórter-fotográfico nas redações de O Fluminense, Jornal do Brasil, Revista Galileu, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, e nas agências de notícias Associated Press (AP) e France Presse (AFP). Tem trabalhado também para assessorias de comunicação de empresas e instituções como Claro, TIM, UFRJ, UERJ, Shell, Cenpes, Petrobrás, Furnas, Firjan e Ministério Público do RJ. Trabalhou como editor de fotografia na M&B Comunicação e Marketing, no Informativo da Orquestra de Garrafas e na Revista Select News Fashion. É bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela PUC-Rio.

2 comentários:

mk disse...

Gostaria de entrar em contato com o Antonio BAtalha.

Algum e mail?


//Melanie

Aguinaldo Ramos disse...

Ele informa antonio.batalha@hotmail.com