sexta-feira, 6 de julho de 2007

Américo Vermelho > O enterro de D. Lyda

Trechos do depoimento de Américo Vermelho, gravado em 25/04/2007, sobre a foto do enterro de D. Lyda, secretária da OAB/RJ, no cemitério São João Batista, Rio de Janeiro.
D. Lyda Monteiro da Silva foi morta aos 59 anos, em 27 de agosto de 1980, durante o governo Figueiredo, na chamada “Operação Cristal”, organizada por grupos extremistas de direita. A carta era endereçada ao presidente da entidade, Eduardo Seabra Fagundes, do qual D. Lyda era secretária.
Fonte: Grupo Tortura Nunca Mais (
http://www.torturanuncamais-rj.org.br/).

Transcrição >


- (...) Na hora do clique mesmo (eu não sei os outros...), na hora do clique mesmo, eu estou preocupado em fazer uma boa foto, uma foto que tenha um impacto visual, que tenha, enfim, todas essas informações relevantes que estão presentes ali e tal... De maneira geral, a gente sabe que aquilo tem importância histórica. Quando é possível a gente pede essa pauta, porque é importante e tal. Às vezes não dá, porque o editor tem outros assuntos, tem que distribuir trabalho para todo mundo, cobrir todas os assuntos do dia. Mas, quem gosta disso, quem gosta, às vezes pede: “eu quero fazer essa foto...”
Essa aqui é uma delas. É um trabalho free-lancer, eu não era funcionário da Veja, era fotógrafo free-lancer, e o editor aqui do Rio era o Zuenir Ventura nessa época. E aí ele já me conhecia e o trabalho que eu fazia na Istoé e me chamou especificamente para fazer este trabalho aqui e me indicou: “eu queria que você ficasse lá no cemitério, queria que você acompanhasse o enterro”. O enterro saiu da Câmara Municipal e veio até o São João Batista e tinha outros dois fotógrafos cobrindo isso aí. E ele disse: “eu quero que você fique ali, porque essa é a foto.”




- Foi específico?
- É, foi específico.
- Ele queria esse tipo de foto?
- Não, o tipo de foto não, ele queria o local. Isso aqui foi decisão minha. Eu sei que é capa, então já tinha um enquadramento vertical, aquelas coisas que a gente sabe... Mas, nesse momento aqui, pediu que eu ficasse aqui, nesse... Que era o momento mais importante. Não, não era o mais importante, era um momento muito importante, que era a hora em que você vai (...)
- Nessa foto, tem alguma coisa que você acha que a valoriza?...
Tem, acho que... a bandeira do Brasil, né?, a bandeira do Brasil.

E, uma coisa interessante, que eu acho, é que não aparece ninguém, assim... Tem as pessoas aqui em volta, mas não tem ninguém importante, não dá pra dizer que aqui está o ministro tal, ali um cineasta... São pessoas, que eram, como era a D. Lyda, uma figura comum. Não era uma figura pública, nesse sentido.

Então, é isso. E essa bandeira do Brasil aí em cima, eu acho que dá uma boa... E aí, é claro, entra o título. Que resume, acho, toda a importância da imagem.

Américo Vermelho > formado em Comunicação Social pela Universidade Católica do Paraná (1978), começou a fotografar no Paraná em 1969.
Trabalhou como fotógrafo para os principais jornais e revistas do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, tais como: O Estado do Paraná, O Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, assim como nas revistas IstoÉ, Veja e Senhor. Como cinegrafista, trabalhou para as TV Tibagi e TV Paraná, no Paraná.
Entre 1983 e 1986, foi professor de Fotojornalismo na PUC do Rio de Janeiro.
Atualmente, além de atuar como fotógrafo para diversos jornais e revistas (e cursos de fotografia), desenvolve trabalhos na área da fotografia digital.

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